UcconX: Erros e acertos da primeira edição

O UcconX foi solapado por críticas nas redes sociais. Em sua estreia, o festival teve de avisar: Millie Bobby Brown não iria.
UcconX: Erros e acertos da primeira edição

Mal tinha aberto suas portas, o UcconX foi solapado por críticas nas redes sociais. No dia 27 de julho, em sua estreia, o festival teve de avisar: Millie Bobby Brown não iria.

A atriz de “Stranger Things”, uma de suas principais atrações, tinha sido o primeiro nome anunciado para o evento, junto com o do skatista Sandro Dias, quando os organizadores fizeram o lançamento oficial do Universal Creators Conference Experience, em maio.

Sediado no gigantesco espaço de exposições do Anhembi, o UcconX teve como primeiras cenas veiculadas nas redes amplas áreas vazias e mesmo estandes aparentemente em montagem.

Essas fotos prejudicaram a imagem do festival que, ao final, em sua primeira edição, teve um público de 50 mil pessoas circulando no evento entre os dias 27 e 31 de julho, de acordo com a BBL, detentora da marca – o número foi recentemente informado, mas a arrecadação não foi divulgada.

O comunicado da ausência de Millie naquela fatídica quarta-feira revelou que outra atração também não compareceria ao festival: o ator George Takkei.

No primeiro momento, disseram que o motivo do cancelamento das viagens foi por terem testado positivo para Covid-19. Depois, foi emitido novo comunicado: eles, de fato, não estavam doentes.

Takkei avisou, em um vídeo nas redes, que o marido é quem estava com Covid e precisava de cuidados. Millie Bobby Brown? Ficou um mistério para sua decisão, inclusive para os organizadores, conforme alegaram.

Como se isso fosse pouco, ex funcionários da empresa que tinha criado originalmente o UcconX foram para a mídia social contar como tudo era mal gerido e como eles ficaram meses sem receber (o evento foi concebido antes da pandemia e chegou-se a pensar em realizá-lo ainda em 2021). A BBL adquiriu a propriedade intelectual em novembro.

Diante de tantas críticas na internet, logo o evento foi apelidado de “Fyre Festival Geek”, alusão ao festival de música que seria realizado nas Bahamas em 2017 e foi cancelado em meio a uma completa desorganização e com claros indícios de fraude.

Embora a organização contasse com um time de gerenciamento de crise, Leo di Biase, um dos sócios do UcconX, contou ao Clubeonline que eles não estavam preparados para essa avalanche. Tiveram de virar noites para colocar a vida nos eixos.

“Lidar com o cancelamento de uma artista, que foi a primeira headliner anunciada, junto com o lançamento do festival, a gente não contava com isso. Pegaram esse problema e mais o passivo da antiga empresa e tudo foi amplificado. E teve muita coisa de má fé.”, disse.

Decisões

Com 25 anos de experiência com o mercado gamer, Leo argumentou que não pôde contar com o ciclo total para a montagem de um evento desse porte. “O contrato foi fechado tarde”, avaliou.

A BBL, que surgiu em 2018, começou a colocar o festival em pé a partir de fevereiro. Por que não deixar para 2023? “Vimos a oportunidade de entregar este ano.”, respondeu. Decidiram apostar.

Os antigos donos da marca já tinham feito um acordo com o Anhembi, que se estende para futuras edições. “Um espaço como o do Anhembi, para ser plenamente ocupado, precisa de umas 100 mil pessoas, o que você pode conseguir com uma feira, mas nosso modelo é de festival. Não de feira.”, explicou. Mas Leo fez questão de elogiar o local. “Cresci vendo grandes exposições no Anhembi. É um lugar excelente.”, emendou.

Concluída a primeira edição, os organizadores trataram de anunciar o UcconX 2023. “Entre erros e acertos, o nosso saldo é extremamente positivo. Entregamos uma experiência completa para o público com as mais diversificadas atrações dos universos geek, pop, urban, asian, nerd e de séries e filmes. A primeira edição nos dá um parâmetro para sabermos o que podemos melhorar e o que devemos manter. Para a segunda edição faremos alguns ajustes para garantir uma experiência ainda melhor para os visitantes. E o que posso adiantar é que estamos animados para iniciar o planejamento e a programação do UcconX 2023.”, declarou, em comunicado, Nando Cohen, outro sócio da BBL e produtor do evento.

Sobre os vazios dos primeiros dias, Leo argumentou que o início do evento estava reservado para ajustes. Havia forte expectativa pelo poder de atração de Millie e também do inglês Rupert Grint, famoso por ter vivido Rony Weasley na franquia Harry Potter.

Porém, no entendimento dos organizadores, o fato de o evento ter sido construído para reunir tribos também poderia ser um motivo de sucesso. A ausência da atriz derrubou as perspectivas que tinham antes.

“As críticas foram revertidas aos poucos. Pelas pessoas que perceberam que o UcconX tem coisas que outros festivais não têm, como um half-pipe.”, citou, referindo-se a uma pista montada no espaço batizado de Urban.

Para Leo, a prova de que acertaram no modelo foi uma boa onda de venda de ingressos nas duas semanas anteriores ao evento, e, durante a UcconX, ao fato de as ativações terem sido esgotadas rapidamente.

Em sua visão, o festival já está no calendário oficial. Tanto que, daqui a um mês ou dois, estarão trabalhando na próxima edição.

No limbo

A respeito de Millie, Leo contou que a empresa está aguardando mais informações. No modelo da UcconX, os contratos são fechados diretamente pela BBL, e não por um estúdio, como ocorre com outros eventos.

Isso quer dizer que eles fecham a participação com um total de horas. Com Rupert, foram estabelecidos dois dias plenos de atividades, o que ele cumpriu, fazendo a alegria dos fãs, apesar de terem de esperar horas para apreciarem os momentos.

Os contratos também estabelecem multa pela ausência. Isso poderia ser cobrado dos agentes da estrela de “Stranger Things”, mas, para Leo, a melhor saída é conversar de novo com a equipe de Millie, que teria justificado a reviravolta por motivos profissionais. “Queremos conversar e compreender tudo o que se passou.”

Naquele dia, a informação de que a atriz não viria chegou por volta da hora do almoço. Isso foi transmitido logo para o público. Leo disse que o time de crise se reuniu e pediu mais esclarecimentos para a empresa que administra a carreira de Millie. “A gente falou ‘vocês estão nos jogando no limbo’. Foi um rebuliço”. Mas eles responderam que não poderiam falar mais naquele momento.

Ajustes

Os impactos negativos do primeiro ano do UcconX estão rendendo aprendizados para a BBL. “Enfrentamos dores de uma primeira edição de evento.”, comentou Leo.

Uma das questões repousa sobre os preços. Teriam sido os mais acertados para um evento que estava nascendo? Havia ingressos de R$ 200, mas para ter uma aproximação maior dos artistas era preciso desembolsar muito mais.

O palco principal dá acesso a todos os participantes, e lá acontece uma entrevista com a atração. Já para ter acesso a painéis e outros momentos como a hora do autógrafo podia-se comprar o passe VIP, que saía por R$ 5 mil.

Outro ponto que chamou a atenção dos organizadores foi o horário. O início da tarde dos primeiros dias era marcado por espaços bem vazios.

No final de semana, houve um público muito maior, o que já era esperado. O primeiro dia, porém, não passou uma boa impressão para os primeiro participantes.

Um investimento maior que deverá ser feito para a próxima edição, segundo Leo, será nas estratégias de marketing do evento. E também na aproximação com os anunciantes. LG e Claro estiveram entre os grandes patrocinadores.

As duas marcas e outras como FMU optaram por um formato oferecido pela BBL, em que uma equipe interna propõe as ações de live marketing com base no conhecimento que tem do público (a empresa tem experiência no mercado gamer e em e-Sports). A LG, por exemplo, explorou o evento para fazer lançamento de produto.

De acordo com Leo, surgiram diversas propostas feitas por marcas, mas, pelo ciclo fiscal, muitas não puderam fazer os investimentos porque os recursos já estavam comprometidos.

Ficaram de fora do evento setores como bancário, alimentício e vestuário, segmentos que podem entrar na prospecção do festival do ano que vem.

Balanço

Além de Rupert, o UcconX trouxe para o evento os atores Ian Somerhalder (de “The Vampire Diaries”) e Dacre Montgomery (de “Stranger Things”), e a cantora Any Gabrielly (representante brasileira do grupo pop mundial Now United).

Entre os espaços tematizados, na área gamer, houve torneios como Clutch CS:GO e NFA de Free Fire. O espaço recebeu nomes famosos do universo de jogos eletrônicos como Gabriel “FalleN” Toledo e os streamers Nobru e Cerol.

Outras áreas montadas no Anhembi foram Urban e Asian. Havia também um espaço para o cosplay.

O evento contou ainda com uma “guerra de robôs”, o Street Bot, com 12 equipes com 20 robôs. As disputas, que ocorreram em arenas e foram transmitidas por um telão, contaram com o apoio do embaixador e influenciador Douglas Mesquita Silva, o Rato Borrachudo. Ele tem mais de 850 mil seguidores no Instagram e 3,7 milhões de seguidores no YouTube.

Por Lena Castellón.

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