Largo da Batata Ruffles é cancelado pela Prefeitura e PepsiCo desiste da iniciativa
A Prefeitura de São Paulo anunciou que anulou o acordo com a PepsiCo que permitiria à empresa renomear o Largo da Batata para “Largo da Batata Ruffles” durante suas ações e campanhas. Além disso, o espaço passaria por uma revitalização. A administração municipal informou que o termo de doação foi invalidado e que fará uma reavaliação documental, considerando o tempo necessário para que a Comissão de Proteção à Paisagem Urbana (CPPU) se manifeste sobre a proposta de parceria para o Largo da Batata.
O vereador eleito Nabil Bonduki (PT), também arquiteto e urbanista, criticou a cessão do espaço, dizendo que ela foi realizada a “preço de banana” e que o acordo levanta questões sobre o uso inadequado de um espaço público. De acordo com Bonduki, a Comissão de Proteção à Paisagem Urbana não foi consultada, embora o órgão seja responsável por avaliar a presença de marcas em áreas públicas. Ele destacou que o contrato levanta sérias dúvidas quanto à legalidade e transparência da gestão de Alan Nunes Cortez, subprefeito de Pinheiros, que assinou o termo no dia 28 de novembro.
Pelo acordo, a PepsiCo usaria o Largo da Batata para promover sua marca Ruffles durante dois anos, oferecendo em troca R$ 1.122.410,00 em serviços e equipamentos que, segundo o vereador, seriam de baixo valor agregado. A parceria fazia parte do programa municipal “Adote Uma Praça”, voltado para a colaboração da iniciativa privada na melhoria de espaços urbanos.
A proposta gerou uma onda de críticas nas redes sociais. Muitas pessoas consideraram absurda a ideia de renomear o local para “Largo da Batata Ruffles”, com um internauta afirmando: “Achei que fosse uma piada da Revista Piauí”. Outros não conseguiam acreditar na notícia e questionavam: “Como assim Largo da Batata Ruffles?”
“A Prefeitura de São Paulo informa que tornou sem efeito nesta quinta-feira (12) o Termo de Doação Nº 06/SUB-PI/2024 objetivando a reanálise documental e tempo hábil para manifestação da Comissão de Proteção à Paisagem Urbana (CPPU) a respeito da proposta de parceria para o Largo da Batata”, afirmou a prefeitura, em comunicado.
PepsiCo desiste do projeto
A PepsiCo emitiu um comunicado à imprensa na noite de 18 de dezembro, anunciando a decisão de cancelar o projeto de revitalização do Largo da Batata, que seria rebatizado como “Largo da Batata Ruffles”.
A empresa também esclareceu que o projeto de revitalização não envolvia um acordo de naming rights. No entanto, nas redes sociais, nos vídeos e nas imagens divulgadas pela empresa sobre a parceria, a marca utilizou o nome “Largo da Batata Ruffles” como parte de sua estratégia de marketing.
De acordo com a PepsiCo, o “objetivo do projeto sempre foi o de oferecer benefícios e melhorias para a população que frequenta o Largo. Lamentamos a percepção que pode ter sido gerada sobre intenções eventualmente diferentes desta”, afirma o comunicado.
A nota segue destacando que a companhia reforça seu compromisso com boas práticas de parcerias tanto no Estado de São Paulo quanto em outras regiões do Brasil. A PepsiCo afirmou que irá reavaliar a iniciativa como um todo, ressaltando que seu compromisso com o desenvolvimento socioambiental das comunidades permanece firme, já que está presente no Brasil há 70 anos. A empresa também garantiu que todas as diretrizes do processo administrativo e as leis em vigor foram devidamente cumpridas.
Por fim, a PepsiCo destacou que é amplamente reconhecida como uma das empresas mais éticas do mundo, conforme o Instituto global Ethisphere.
MP aceita denúncia
O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) acolheu uma denúncia protocolada pelo vereador Nabil Bonduki e solicitou esclarecimentos sobre o contrato firmado entre a gestão de Ricardo Nunes (MDB) e a PepsiCo Brasil, que autorizava o o projeto do Largo da Batata Ruffles.
O promotor José Carlos Blat, da Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social da Capital, indicou a existência de possíveis indícios de “concessão ilegal do espaço público às empresas envolvidas e cessão fraudulenta do nome da praça”. Ele determinou a distribuição da denúncia ao promotor Paulo Destro, que estabeleceu o prazo de 10 dias para que as partes envolvidas forneçam esclarecimentos sobre os objetivos do contrato
O projeto
A revitalização da praça de 30 mil m² começaria ainda em 2024, com conclusão prevista para o início de 2025. Segundo a PepsiCo, a primeira fase da reforma incluiria a restauração do calçadão e dos canteiros e jardins.
A Ruffles, marca de snacks da Pepsico conhecida por suas batatas chips, anunciou no dia 12 de dezembro um projeto ousado para transformar o Largo da Batata, um dos pontos mais tradicionais da Zona Oeste de São Paulo. Em parceria com a Ampfy/Bakery e Farah Service, a Ruffles iria revitalizar o espaço público, criando um ambiente mais agradável e convidativo para os paulistanos.
A iniciativa, que fazia parte da campanha “Viva essa Onda” da Ruffles, tinha como objetivo conectar a marca com o público de forma mais genuína e autêntica. A ideia surgiu após um comentário viral nas redes sociais sobre a ausência de batatas no local, inspirando a criação de um projeto que unisse a história do Largo com o conceito da marca.
Um novo espaço para todos
O local passaria a ser chamado “Largo da Batata Ruffles” em ações e comunicações da marca a partir da parceria. As reformas no Largo da Batata incluíriam a restauração do calçadão, a criação de uma horta comunitária, a instalação de uma pista de skate e a revitalização da academia ao ar livre. Além disso, o espaço teria wi-fi gratuito, coleta seletiva e a arte do grafiteiro Negritoo.
“Acreditamos que a vida não é linear, ela acontece em ondas. E o Largo da Batata representa essa diversidade. Queremos que esse espaço seja um ponto de encontro para pessoas de todas as idades e estilos de vida”, disse Simone Simões, Diretora de Marketing da PepsiCo Brasil.
Um legado para a cidade
A revitalização do Largo da Batata seria um investimento a longo prazo da Ruffles, que buscaria deixar um legado para a cidade de São Paulo. A marca esperava que o espaço se tornasse um ponto de referência para os paulistanos e um exemplo de como a iniciativa privada pode contribuir para a melhoria da vida urbana.
Fotos: Câmara Municipal de São Paulo e Divulgação