Declínio dos NFTs se agrava com disputas judiciais e queda nas vendas

O mercado de NFTs, que já movimentou bilhões e atraiu celebridades, vive um momento delicado, com prejuízos financeiros e marcas como Dolce&Gabbana e Mango enfrentando problemas em seus projetos com a tecnologia

O mercado de tokens não fungíveis (NFTs), que já foi sinônimo de inovação digital e ostentação de celebridades, enfrenta hoje um cenário de desvalorização acelerada, disputas judiciais e fuga de investidores — uma reversão quase total da euforia registrada entre 2021 e o início de 2022.

Um dos casos mais recentes que ilustram essa crise envolve a grife de luxo Dolce&Gabbana, isentada no dia 11 de julho de uma ação coletiva movida nos Estados Unidos. A decisão da juíza federal Naomi Reice Buchwald, em Nova York, determinou que a divisão americana da marca, a Dolce & Gabbana USA Inc., não pode ser responsabilizada pelo fracasso do projeto DGFamily, lançado em 2022 por sua matriz italiana.

Os compradores alegam que a grife arrecadou mais de US$ 25 milhões com a venda dos NFTs, sem entregar os benefícios prometidos — como roupas digitais para o metaverso Decentraland, itens físicos da marca e acesso a eventos exclusivos. A justiça entendeu que a subsidiária americana não teve participação no projeto.

Outro caso emblemático ocorreu na Europa: a varejista de moda Mango foi condenada a pagar 750 mil euros por usar obras de artistas como Miró, Tàpies e Barceló para criar NFTs sem autorização legal. A empresa foi considerada culpada por violação de direitos autorais, mesmo sendo proprietária física das obras.

Esses episódios se somam a um contexto de forte retração no mercado. Embora os NFTs existam há quase uma década, foi apenas em 2017 que ganharam visibilidade com o lançamento do jogo CryptoKitties, da Dapper Labs. O jogo, baseado em gatos digitais colecionáveis, se tornou tão popular que chegou a congestionar a rede Ethereum.

Anos depois, a febre atingiu novos patamares com o surgimento do Bored Ape Yacht Club, uma coleção de macacos de desenho animado que virou febre entre celebridades como Neymar, Madonna, Paris Hilton e Justin Bieber, além de inspirar festas exclusivas com shows de The Strokes e Chris Rock.

No início de 2022, o hype atingiu seu pico. NFTs eram vendidos por milhões de dólares, e muitos colecionadores viraram milionários da noite para o dia. No entanto, desde então, o mercado tem colapsado sob diversos aspectos.

O volume negociado de NFTs em 2024 somou US$ 13,7 bilhões, segundo a plataforma DappRadar — uma queda de 19% em relação a 2023, que já havia registrado retração de 18% em relação a 2022. O número de transações também despencou: de 60,6 milhões em 2023 para 49,8 milhões em 2024, o menor patamar desde 2020.

O sentimento dos investidores se deteriorou, com muitos entrando com ações judiciais contra criadores e plataformas, após verem suas obras digitais perderem quase todo o valor. Até mesmo grandes players do setor estão sob pressão.

A Yuga Labs, empresa por trás do Bored Ape e dona do CryptoPunks, “enfrenta um desafio significativo”, segundo Sara Gherghelas, analista da DappRadar. A nova política de royalties da plataforma OpenSea ameaça cortar “receitas substanciais” da empresa a cada mês.

Enquanto isso, os traders parecem estar abandonando os NFTs e voltando às criptomoedas mais tradicionais: o bitcoin, por exemplo, já subiu cerca de 60% neste ano.

De fenômeno cultural a mercado judicializado e em retração, os NFTs agora lutam para se reinventar — ou correm o risco de se tornarem apenas uma nota de rodapé na história recente da web3.

Fotos: Divulgação

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