Estúdio Promoview debate a retomada dos eventos
O episódio 13 da série Estúdio Promoview, apresentado por Julio Feijó, contou com a participação de pessoas importantes no setor de eventos corporativos e live marketing.
Uma postagem no Instagram do Promoview sobre o desabamento de um estande durante a Apas gerou uma quantidade enorme de comentários.
Muitos criticaram os clientes que aceitam trabalhar com as agências que dão o menor preço, outros criticaram os prazos apertados e as próprias agências que colocam o próprio preço lá embaixo, enfim ,as razões dadas para o acontecimento foram diversas.
Dali veio a proposta de Fernando Ribeiro para desenvolver o episódio no estúdio da Netza &cosistema. Falando sobre o ponto de vista das agências, participam do episódio além do Fernando, Marcello Soares da Hype, que é diretor de criação e produção; Marcelo Pimentel, diretor de produção da Núcleo e Celio Ashcar, da Akm Performma que também fala em nome da Ampro, já que ele voltou a ocupar a cadeira de Presidente do Conselho na entidade.
A visão dos clientes vem por meio do Guilherme Bailão, Head Brand Experience & Sponsorship da Heineken, que comanda uma parcela muito grande das principais ativações e eventos do país.
Julio Feijó também conversou com representantes das empresas mais atingidas pelos incidentes nos primeiros grandes eventos pós-pandemia.
Além de Paulo Passos, da diretoriada Abrace, que é a organização dos montadores de cenografias e estandes, ele ouviu o Rodrigo Barros da GTM, e o Zé Nogueira da B Marketing, duas as montadoras com maior expressão no mercado.
Ainda na classe de fornecedores, Julio também falou com Flávio Cateb, da Ferrara, que coloca uma visão a partir dos fornecedores de A&B e com o Orlandinho Sgarbi da Apple que passa a visão do ponto de vista de quem faz técnica, áudio, luz, vídeo.
Para Guilherme Bailão, da Heineken, que comanda uma parcela muito grande das principais ativações e eventos do país avalia que estamos vivendo um momento intenso, mas também tenso com esse retorno pós pandemia mas .acredita em uma normalização do setor ainda neste ano.
“As coisas já estão acontecendo, os eventos já estão liberados, as feiras, tudo já é liberado, mas a gente está tendo um impacto muito grande, que eu acho que ninguém parou para discutir sobre isso, entre clientes, agências e fornecedores, que é, na verdade, o acúmulo de necessidades de projetos e de briefing, mas sem uma estrutura financeira dos fornecedores, das agências e, também, o entendimento dos clientes de que o mercado está muito delicado.”, alertou ele.
Bailão também apresentou um cenário sobre como o setor vai se comportar nos próximos anos: “Intenso, pois são inúmeros eventos acontecendo ao mesmo tempo. Desde os que foram reprogramados por conta da pandemia, mas também as novas iniciativas e produções que estão surgindo. Essa grande quantidade de ativações de marca, eventos, experiências, é claro que acompanha o comportamento dos consumidores, que estão ávidos por curtir a vida com liberdade, reencontrar amigos, ver pessoas, enfim… Viver experiências. Mas quantidade nem sempre quer dizer qualidade, não é mesmo?”, pergunta ele.
“Por isso, cabe ao mercado, como um todo, se reorganizar. Eu digo fornecedores, agências, clientes, se reorganizarem e agirem com mais prudência. Atenção aos prazos, atenção aos detalhes, e, obviamente, a saudabilidade do negócio como um todo.”, finaliza.
A visão dos fornecedores
Considerados como a ponta mais frágil do sistema, os empresários das estruturas chamadas de “fornecedores” comentaram a situação. Julio Feijó se preocupou em ouvir profissionais das áreas mais importantes em uma produção de live marketing: A&B, cenografia e técnica.
No entendimento de Flávio Cateb, diretor da Ferrara Gastronomia essa situação já era prevista. “Alertamos nossos clientes, avisamos também as agências que isso ia acontecer, que a volta dos eventos após a pandemia iria ser uma coisa violenta. E o mercado, de uma maneira geral, achou que poderia lidar com essa situação, que são os briefings mal passados, repletos de falta de informações, os prazos apertados para enviar as propostas, em que a gente não tem condições de poder cria com qualidade, com detalhe… E aí os orçamentos ficam aquele remendo.”, disse.
“A antecedência que a gente precisa das aprovações com todos os detalhes para poder fazer uma entrega profissional, de qualidade, né? Além disso, a gente continua com problema de verbas ainda estacionadas em 2019, sabendo que tudo aumentou e que continua aumentando…. E os prazos insanos sugeridos para pagamento. Então, a combinação de tudo isso é a tempestade perfeita e o que está acontecendo é o que tem sido visto nos eventos.”, concluiu.
Na opinião de Orlandinho Sgarbi, diretor de Negócios da Apple Produções, a área técnica vem sofrendo um pouco com essa desorganização. “Sim, a gente entende que a desorganização ela vem da partida, né? Muitas vezes até do próprio cliente final, sem saber realmente o que ele quer e com os prazos curtos, principalmente para as coisas médias.”, aponta.
Para ele, há dois pontos cruciais para essa desorganização na retomada do setor de eventos. “O primeiro ponto é ausência de profissional capacitado, pois equipe técnica está cada vez mais difícil, não é? Todas as empresas de técnicas estão trabalhando muito, graças a Deus. Então, acaba que que falta mão de obra qualificada.”, revela ele.
“E o outro ponto que pega muito aqui é ausência de componente para você poder comprar equipamento, pois você tem a demanda de compra de investimento. A gente tem vários equipamentos que a gente gostaria de ter comprado e quer comprar, só que, com ausência de componente, esses equipamentos não conseguem ficar prontos para a gente poder fazer a importação dele, seja chip ou qualquer outro tipo de componente.”, conclui.
Para José Nogueira, sócio da B Marketing, esse momento pós-pandemia veio com uma força muito grande, porque o mercado estava repreendido e agora, com a liberação de todos os eventos, o não uso de máscara, com comprovação somente da vacina, os eventos vieram com muita força.
“Tanto é que se você reparar, tem feiras que não eram juntas e que estão sendo juntas nesse primeiro momento. Eu acho que, no ano que vem, começa a se normalizar. Mas é bom para as empresas que sempre têm estrutura, são profissionais e não deixam o cliente na mão. Então isso é muito importante, porque tem muito aventureira aí no mercado que acha que com uma empreita consegue realizar muita coisa, não consegue.”, ressalta.
Como é possível perceber por essas falas, a questão de o cliente colocar preços sem ter a ideia realmente do que que é o projeto acaba resultando no que a gente viu na Apas, com estandes inacabados e acidentes.
“Eu tenho certeza absoluta sobre isso, porque tem vários clientes que se baseiam num valor de cinco anos atrás e não acompanharam de perto todo o aumento que a gente teve de matéria-prima, e vou citar alguns aqui: madeira, ferro, combustível, que isso aí reflete em lona, adesivo, napa, tudo que a gente usa para a montagem do estande. Então, quando a gente fala que o valor de metro quadrado é X, é porque a gente trabalhou esse orçamento e atualizou esse orçamento. Esse valor não é da nossa cabeça.”, disse Zé Nogueira.
Rodrigo Barros, founder e CEO da GTM afirma que a situação atual era uma ‘tragédia anunciada’. “A gente cansou de avisar na época da pandemia, na época em que a gente estava parado, que tudo ia voltar de uma forma diferente. Que a gente tinha que repensar os prazos. Que a gente tinha que repensar na forma construtiva. E não. Todo mundo voltou desesperado, tendo que recuperar o prejuízo, aceitando os projetos, os trabalhos a qualquer custo e a qualquer preço.”, critica.
Por isso, de acordo com ele, vemos o resultado que apareceu agora. Equipes não capacitadas para fazer trabalhos grandes, empresas aceitando prazos que não correspondem ao tamanho do trabalho. “Enfim, é hora de repensar. Não dá para trabalha dessa forma. Cenografia, estande, não pega na prateleira. Tem que ser detalhado, tem que ser construído, tem que ser montado e por gente boa, gente capacitada. A gente tem que repensar nos prazos, senão a gente vai continuar tendo problema.”, alerta.
Já Paulo Passos, da Abrace, acha que, mesmo que a gente deva olhar para a metade cheia do copo, que é o enorme sucesso e força do mercado de eventos na capital e no Estado de São Paulo, isso mostrou toda uma série de problemas.
“Então você começa, então, veja só, você entra num período com feiras de enorme sucesso acontecendo, lotadas, e a infraestrutura para atendê-las está aquém, ela não está conseguindo atender da forma como todo mundo gostaria de atender. Está atendendo? Está, mas não da forma como todo mundo gostaria de atender. Então, com muitos sacrifícios por parte de todos os envolvidos, até virando noite, coisas que há muitos anos não acontecia dentro dos nossos pavilhões. É pontual? Sim é pontual, eu não tenho dúvida quanto a isso. Mas é o que está acontecendo nesses momentos.”, afirmou.
Agências recomendam mais rigor na escolha dos fornecedores de serviços
Para ele, o desabamento do estande na Apas Show é apenas a ponta do iceberg. “Não é só esse estande da Apas que caiu.”, comentou Fernando Ribeiro da Netza.
“Na verdade, eu estive lá, e fiquei sabendo com os clientes e parceiros, que teve vários estandes que não foram entregues cem por cento. Então é a falta de capacidade e de capacitação da mão de obra. A área de montagem de estande foi muito impactada, uma das que mais foi impactada nessa pandemia e a gente começa a ver a consequência disso.”, aponta.
“E, na verdade, é um basta para a gente sentar, nós, as agências, fornecedores, clientes, associações, o Promoview e todo mundo, paras discutir como a gente pode melhorar esse mercado e não deixar acontecer o que está acontecendo, como nesse exemplo da Apas nesse momento.”, disse Fernando.
Fernando Ribeiro parece concordar com a posição de muitas dessas pessoas que comentaram no post do instagram@promoview, pois, segundo ele, além de toda essa dificuldade de análise financeira, capacitação do fornecedor, para ver se ele tem capacidade de entrega financeira ou estrutural, é preciso ver também os limites de prazo.
“Eu não sei exatamente as causas, a gente pode ir a fundo, mas também tem aquela coisa né, eu acho que, cada vez mais, as empresas têm que respeitar a agência em questão de o prazo não dá a gente tem um limite de execução e tudo mais né. Esse é o início de uma coisa que já vinha acontecendo alguns anos atrás, e, com certeza, após dois anos parados por causa de uma pandemia deve ter acontecido, assim como está acontecendo muita coisa no setor.”, revela ele.
Célio Ashcar aponta para motivos semelhantes aos de Fernando. Na opinião dele, quando os profissionais se propõe a trabalhar com eventos, e, neste caso, estandes e feiras, eles têm que estar com um radar muito grande na escolha do fornecedor.
A escolha do fornecedor passa, para ele, também pela parceria. ”Porque não adianta, também, a gente escolher o fornecedor pelo menor preço, porque é isso que os clientes fazem com a gente e a gente critica tanto. A gente tem que escolher o fornecedor, que é o nosso parceiro em um projeto desses, pela sua capacidade de entrega, pelos profissionais que vão trabalhar na execução, e, principalmente, pela credibilidade ao longo da história.”, afirma.
“Então nós, como agência, somos responsáveis por essa escolha. Mas o principal é trabalhar com esses parceiros de forma muito competente, de forma muito profissional e sempre preocupados com as pessoas com que vamos trabalhar, porque são elas que, na madrugada vão montar, vão ter o padrão de qualidade. Então, assim, é isso que eu sempre falo aqui dentro da agência: ‘Quem é o fornecedor?’, ‘É um parceiro?’, ‘Eles estão do nosso lado?’, ‘Nós estamos dando para ele os melhores formatos de trabalhar?’, ‘Nós estamos fazendo o melhor prazo de pagamento com eles?’. Porque, senão, vira uma cadeia em que o cliente nos esmaga, a gente esmaga o fornecedor e aí acontecem essas catástrofes.”, conclui.
Marcelo Pimentel do Núcleo, vai numa linha de pensamento parecida, ao apontar inclusive para as consequências na saúde e até na segurança de quem trabalha na área.
“Na semana passada a gente teve dois óbitos de produtores devido ao estresse com mal súbito. Essa semana a gente teve o caso dentro da Apas, da agressão a um empresário. Então, assim, isto, nos deixa bastante preocupados. Acho que isso é um grande alerta. Não pode continuar do jeito que está. A gente tem que mais planejar do que executar.”, declara.
Marcello Soares, da Hype, recorda que, com a pandemia e todos os ajustes pelos quais o setor precisou passar para trabalhar durante os dois anos de restrições, o mercado teve todo o tempo do mundo para se preparar para o boom que estamos vivendo agora.
“Sobrevivemos, estamos aqui hoje. A gente vive o oposto agora. Então, uma demanda desenfreada de trabalhos ainda, uma demanda reprimida que vem sendo soltada aos poucos em volumes razoáveis e que a gente não consegue cumprir com o planejamento né. Não é possível que a gente não sabia que aconteceria um Rock in Rio agora neste ano, não é possível que a gente não sabia que aconteceria uma Apas, não é possível que a gente não sabia que aconteceria o Lollapalloza.”, afirmou.
Aos solavancos tudo vai se ajustando de forma natural como sempre foi: Entidades e organizações não têm a força necessária para mudar esta situação, o que leva a um jogo sem regras, com muita falta de respeito nas relações em todos os níveis.
Para complicar, existe o medo dos maiores prejudicados em dar nome e sobrenome daqueles que colaboram para um mercado cada vez mais árido e que agora tem ingredientes novos: Violência e irresponsabilidade.
As pessoas e profissionais do setor de live marketing estão se ferindo tanto físico quanto mentalmente.