Cambridge expõe o custo da manipulação digital em estudo pioneiro
🔎 Foco da notícia 🔎
- A universidade revela, via estudo pioneiro, quanto custa comprar seguidores, visualizações e comentários, expondo o mercado global de manipulação digital.
- A pesquisa aponta que empresas e governos focam apenas em remover conteúdo e perfis, enquanto ignoram a estrutura econômica que permite a criação e operação de contas falsas.
- Mesmo sendo ilegal, por apenas 10 dólares, é possível adquirir grande volume de seguidores e visualizações em várias plataformas.

A Universidade de Cambridge vai lançar, em 11 de dezembro, um estudo pioneiro que revela quanto custa alimentar a engrenagem da desinformação e da popularidade fabricada nas redes sociais. A pesquisa destrincha o mercado clandestino que vende seguidores, curtidas, visualizações e outros tipos de engajamento artificial — serviços que continuam circulando livremente, apesar de ilegais e amplamente usados.
O estudo pioneiro parte de um exemplo cada vez mais comum: ofertas enviadas por agências que prometem “sigilo absoluto” e resultados rápidos, com milhares de seguidores e views aplicados diariamente. Por trás dessas propostas está a base de um ecossistema bem mais profundo: redes de perfis falsos operando em conjunto para manipular debates, inflar reputações, estimular ataques coordenados e espalhar desinformação. É o chamado comportamento inautêntico coordenado, quando múltiplas contas agem como um único organismo com objetivos ocultos.
Para medir essa economia subterrânea, Cambridge apresenta o COTSI — Cambridge Online Trust and Safety Index — uma espécie de índice econômico do mercado do falso. Ele calcula quanto custa adquirir seguidores, criar contas de fachada e contratar serviços de manipulação em diferentes países.
Os dados são reveladores: por apenas 10 dólares (cerca de R$ 54), é possível comprar cerca de 7 mil seguidores no TikTok, 8 mil no Instagram, 2,7 mil no X/Twitter e 660 no YouTube. O mesmo valor rende 70 mil visualizações no TikTok, 60 mil no X, 9,4 mil no YouTube e 6 mil no Facebook. Comentários falsos custam mais, mas continuam acessíveis: 560 no Instagram, 547 no YouTube e 99 no X.
Essas métricas, segundo os pesquisadores, sustentam um mercado paralelo que também envolve influenciadores: muitos fecham campanhas com marcas por valores altos e depois utilizam engajamento artificial para cumprir metas prometidas.
O estudo pioneiro também examina outro elo essencial dessa cadeia: a indústria global de números de celular alugados, usados para burlar verificações por SMS e multiplicar contas falsas em plataformas que exigem identificação. O Brasil aparece como um dos pontos relevantes desse mapa.
A principal conclusão de Cambridge é contundente: governos e grandes empresas de tecnologia têm combatido apenas os sintomas — removendo conteúdos e derrubando perfis — enquanto ignoram o motor central da fraude digital.
Para os pesquisadores, o foco deveria estar na desarticulação da economia que alimenta a proliferação de contas falsas, e não apenas na limpeza superficial das plataformas.
Fotos: Depositphotos