
Fyre Festival tem nova edição cancelada e marca é colocada à venda
A saga do infame Fyre Festival ganhou mais um capítulo melancólico. A tão aguardada segunda edição do evento, que prometia redenção após o desastroso lançamento em 2017, foi oficialmente cancelada antes mesmo de suas portas serem abertas.

A edição 2025, que estava programada para acontecer entre 30 de maio e 2 de junho na paradisíaca Isla Mujeres, no México, já havia sofrido um adiamento recente, levantando sérias dúvidas sobre sua viabilidade. Agora, a confirmação do cancelamento veio acompanhada de um anúncio surpreendente: o fundador Billy McFarland colocou a marca Fyre à venda.

Para quem não se lembra, o primeiro Fyre Festival prometeu uma experiência de luxo incomparável em uma ilha particular nas Bahamas, com apresentações de artistas de renome mundial e infraestrutura de ponta. A realidade, no entanto, foi um cenário caótico de tendas inacabadas, alimentação precária e cancelamentos em massa de artistas como blink-182 e Migos. O fiasco gerou indignação global e culminou na prisão de McFarland por fraude, que cumpriu quatro dos seis anos de sua sentença.
Em 2023, contra todas as expectativas, McFarland anunciou o retorno do festival, rebatizado como Fyre Festival 2, com a promessa de “reconstruir a confiança” do público. Segundo ele, os dois anos de planejamento foram pautados pela honestidade, transparência e esforço contínuo. A nova tentativa teria como palco o México, mas, apesar da venda de ingressos ter sido iniciada, nenhuma atração musical foi oficialmente confirmada, alimentando o ceticismo dos possíveis participantes.
Na semana passada, os compradores de ingressos receberam a notícia de um adiamento por tempo indeterminado, seguido pelo início dos reembolsos. O golpe final veio com o anúncio do cancelamento definitivo e a informação de que a marca FYRE está à venda, incluindo todos os seus direitos de propriedade intelectual, ativos digitais, presença nas redes sociais e o controverso “valor cultural” acumulado ao longo dos anos.
Em um comunicado, McFarland justificou a decisão: “Decidimos que a melhor forma de alcançar nossos objetivos é vender a marca FYRE Festival, incluindo suas marcas registradas, IP, ativos digitais, alcance de mídia e capital cultural – para um operador que possa realizar plenamente sua visão”.
Ele vislumbra um futuro para a marca além dos festivais, com potencial de expansão para áreas como entretenimento, moda e mídia, mencionando inclusive negociações com executivos de Hollywood para o uso do nome em projetos de teatro, streaming musical e plataformas de TV gratuitas com anúncios.
McFarland explicou que, apesar de ter encontrado uma nova ilha no Caribe disposta a sediar o evento, optou por se afastar para evitar uma repetição dos problemas enfrentados em Playa del Carmen, onde o apoio inicial das autoridades mexicanas teria diminuído após a intensa cobertura negativa da imprensa.
Marca FYRE à Venda
O site oficial do festival (fyre.mx) agora serve como um canal para potenciais compradores da marca. O pacote à venda engloba tanto ativos tangíveis quanto simbólicos, como o domínio do site, perfis em redes sociais e os direitos sobre o nome FYRE. A intenção de McFarland é entregar o comando a um grupo com a experiência e a estrutura necessárias para transformar o projeto em algo viável e duradouro.
“Essa marca é maior do que qualquer pessoa e merece uma equipe com escala, experiência e infraestrutura para realizar seu potencial”, declarou McFarland, sinalizando que continuará colaborando nos bastidores, mas sem o protagonismo que marcou as tentativas anteriores.

Desde sua concepção, o Fyre Festival transcendeu o status de evento fracassado, tornando-se um estudo de caso emblemático da cultura digital. Documentários, reportagens e inúmeras discussões exploraram os temas de marketing enganoso, responsabilidade e os exageros na promoção de experiências. Paradoxalmente, McFarland acredita que essa notoriedade, mesmo que negativa, ainda possui valor significativo para o mercado de entretenimento.
Fyre Festival se transforma em streaming musical
Em uma reviravolta surpreendente, mesmo com as duas tentativas frustradas de realizar o festival presencialmente, a marca Fyre ganhará uma nova vida no mundo do streaming musical. O documentarista Shawn Rech, conhecido por suas produções de true crime, adquiriu parte dos direitos da marca e planeja lançar uma plataforma de vídeo sob demanda focada em conteúdos de música pop e hip-hop, com estreia prevista para o Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos.
O serviço adotará um modelo híbrido, com opções de assinatura mensal e acesso gratuito com anúncios, além de um canal de áudio. A iniciativa contará com a participação do próprio Billy McFarland. Para Rech, o objetivo é criar uma experiência autêntica de descoberta musical, capitalizando a força – ainda que controversa – da marca Fyre.
A possível venda da totalidade da marca FYRE abre caminho para que outros players do setor assumam a liderança de um projeto com reconhecimento internacional, apesar do histórico turbulento. McFarland encerra sua participação pública no comando do festival, reafirmando seu compromisso com a restituição às vítimas da primeira edição e expressando a esperança de que a nova fase possa garantir uma longevidade positiva para o nome FYRE sob nova gestão.
Assim, o festival que nasceu com promessas de luxo e se tornou sinônimo de caos e desorganização tenta, mais uma vez, reinventar-se – depositando suas fichas em novos líderes para conduzir o que seu criador insiste em chamar de “uma das marcas mais poderosas do entretenimento”. Resta saber se, desta vez, o fogo de Fyre encontrará um caminho para brilhar sem “queimar” seus entusiastas.
Fotos: Divulgação